segunda-feira, 19 de julho de 2010

  • Faz muito que a noite desceu por sobre A minha cabeceira. Ao longe as lojas emprestam néons ao rio. E a mulher gorda, no cimo da esteira, Usa colírio e ligas de cetim, Acetinando as carnes intumescidas Pelo tempo. No cimo das escadas, meninas esperam A sua vez, desflorando o seu corpo à Avidez dos marinheiros.
    Nasce a manhã, por detrás do horizonte, Rubro de cores. Partem para a faina os pescadores, Na vã esperança de mais um dia bem produtivo, Antes de chegarem a casa, junto da mulher, Que enxuga as lágrimas, por mais um dia Passado no sobressalto das águas, enquanto As crianças limpam o mouco às mangas Da camisa, pano pueril Que o pouco dinheiro ousou comprar.
    Enquanto isso na lixeira, meninos e meninas, Sujos das mãos à cabeça, Procuram a sua sorte na subsistência De mais um dia, recolhendo pão bolorento E cartão para vender, ao homem dos sete Ofícios. Muitos adoecem prematuramente, Mas a pouca gente Que se preocupa com eles é uma minoria, Que pouco pode fazer para reverter Toda esta miséria, produto dos nossos Tempos, de globalização, que a poucos Tem dizer, Menos ainda à pobreza que se propaga.
    Jorge Humberto

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